30 de setembro de 2009

Corpos, Panelas e Blablablás

Corpos foram feitos para encaixar-se, pensava ela no caminho para casa. O dela e o dele se ajustavam perfeitamente. Os pés e as pernas fundiam-se, a ponto de não se saber de qual dos dois eram. Quadris acoplados. O peito dele nas costas dela. Os braços simetricamente alinhados, repousavam sobre ela, e, ao final, mãos entrelaçadas. Às vezes, durante uma conversa e outra, ele apoiava o queixo, com a barba já um pouco crescida, no ombro dela, causando assim, uma espécie de arrepio involuntário. Seria perfeito, se não fosse um pequeno detalhe. Ele não pertencia a ela. Ela não pertencia a ele.

Toda a panela tem sua tampa, mesmo assim, tem horas que usamos as tampas trocadas, pensei eu, enquanto ela pensava nele. Na urgência de fazer a comida, usamos tampas de outras panelas. Algumas delas parecem encaixar-se perfeitamente, mesmo não sendo do mesmo conjunto. Minha mãe tem uma tampa de panela que cabe perfeitamente em uma frigideira! A gente tenta, força, e a panela acaba cedendo. Às vezes a tampa é grande demais e sobra, mas dá pra quebrar o galho. Só que a panela é de aço inox e a tampa é de teflon. Uma não pertence à outra.

Encaixar-se é o que todos querem na vida, pensava ele arrumando-se para uma festa, enquanto ela pensava nele e eu pensava em panelas. Mas a verdade é que ele ainda não tem certeza do que quer. Sabe que se ajusta perfeitamente nela, mas não sabe por que motivo ela não é a tampa dele. Aliás, ele não sabe se é tampa ou se é panela, se é que isso faz alguma diferença. Segue como uma frigideira com um prato em cima na tentativa de cobrir o que tem dentro de si. Encaixados, ou não, continuam na mesma. Ele não pertence a ela. Ela não pertence a ele.


3 comentários:

  1. E talvez eu já tenha encontrado a minha panela, ou tampa, ou seria apenas uma frigideira?!
    =S
    Não sei, o que sei.. É que seguimos.
    E não nos pertencemos mesmo quando estamos um dentro do outro.


    *Saudades de ler você por aqui.

    Beijinhoss

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